Sunday, September 29, 2002

Tá difícil segurar

Depois dessa pesquisa do Datafolha e da capa da Carta Capital, ficou mais difícil suportar a ansiedade. Já não durmo direito, não como direito (não que isso signifique que esteja emagrecendo ou que emagrecer me interesse), não consigo trabalhar, não consigo me concentrar, não consigo conversar sobre outra coisa, pensar em outra coisa. Se eu sobreviver a esta eleição, serei imortal – já que fumante, pinguça, muito acima do peso, sedentária, torcedora dos pobres e oprimidos, eterna eleitora de candidatos não-vitoriosos seja um enfarte ambulante.

Sexta à noite, num jantar, entendi por que sou/vivo assim. É que estou em outro mundo, não no meu. A conversa girou em torno da nossa juventude. Em 60, aos 14 anos, fim do ginásio, usávamos na gola do uniforme a espadinha do marechal Lott (acreditem, o candidato da esquerda era um militar!), contra a vassoura do Janio (nem é preciso dizer que ele era o candidato da direita). Já tínhamos lido "de um tudo", na expressão dos mineiros, e o rádio formava cidadãos, não "modelos e atrizes", como a TV faz hoje.

Mas agradeço aos deuses. Meu filho, 24 anos, herdeiro de todas essas referências (lê muito, torce pelos oprimidos, vota em perdedor desde os 16), mas não das doenças (não fuma, bebe às vezes de brincadeira, faz exercícios e é magro como um varapau, como a mãe uns anos atrás), é um cidadão formado, cria coisas boas e bonitas e está animado para a vida.

Já é alguma coisa. Se o PT vencer, então, são duas alguma coisa.